No cinema, tal como na vida real, o espaço é vital. Por isso, existem alturas em que a construção perfeita para a trama de um filme não existe, sendo necessário inventá-la e construí-la de raiz, para que o espaço se converta em quase mais um personagem do filme. Isso foi o que aconteceu em "Parasitas". Analise a casa do filme connosco e verá porque o filme coreano conta com um design de interiores que o deixará de boca aberta, algo que contribuiu para o tornar vencedor em Cannes da Palma de Ouro e o grande vencedor dos Óscares, com quatro estatuetas arrecadadas (melhor filme internacional, melhor guião original, melhor diretor e melhor filme).
Neste artigo
- Uma casa com parasitas (de todas as classes sociais)
- Uma maravilha da arquitetura moderna
- Em 3 palavras: minimalista, grande e organizada
- Ao milímetro para que pareça uma coisa e seja outra
- A outra grande diferença: a luz
- A escada como elemento visual chave
Uma casa com parasitas (de todas as classes sociais)
Não sabemos se já viu o filme ou não, mas se não o fez não se preocupe, porque não vamos fazer nenhum spoiler ou contar o final. Mas teremos que lhe contar os antecedentes da história, para que possa perceber melhor a casa:
- A história fala basicamente sobre a divisão de classes (ricos e pobres) representada entre duas famílias sul-coreanas muito distintas. Uma delas vive num Banjiha, um semi-sótão cheio de percevejos (os Kim), e a outra família vive numa mansão que será o centro da ação da maior parte do filme e o motivo pelo qual escrevemos este artigo, a casa dos Park. O filme é divertido, mas também triste, por vezes aterrador mas sobretudo é uma máquina de emoções com um final inesperado. E mais não dizemos...
Uma maravilha da arquitetura moderna
Neste filme impactado pela sempre sangrenta crítica social, todos os arquitetos, decoradores e amantes de tijolo em geral que assistiram ao filme alucinaram com a mansão, uma jóia da arquitetura moderna desenhada no filme pelo arquiteto fictício Namgoong Hyeonja. Mas, na verdade, a mansão foi criada pelo desenhador de produção da própria obra: Lee Ha Jun.
- Sem experiência na arquitetura, a principal preocupação era que este set aberto, construído num lote ao ar livre, respondesse às necessidades das câmaras, composições, e claro, aos personagens. "Tivemos de considerar fatores cinematográficos, mas também tivemos de criar uma casa muito realista, para que o público pudesse aceitar a ideia de que os personagens viviam realmente lá", disse o diretor.
Em 3 palavras: minimalista, grande e organizada
Uma casa enorme com um jardim à medida, com tonalidades monocromáticas e um uso de materiais muito limitado: principalmente madeira escura e materiais em tons cinzentos, para marcar mais o contraste com o frondoso jardim exterior. Muito vidro, móveis à medida, linhas e silhuetas limpas, e janelas quilométricas que confundem o interior e o exterior. O primeiro piso e jardim foram construídos num lote vazio; o segundo piso e o sótão foram construídos num estúdio de som.
- Quando era necessário guardar segredos e os atores deviam atuar como se jogassem às escondidas, o desenho devia permitir que alguém na mesa de jantar visse outra descer as escadas (ou talvez não). Numa história pitoresca, com muitas alterações bruscas e reviravoltas teatrais, as casas (sobretudo a dos Park) são tão protagonistas como qualquer um dos seus habitantes.
Ao milímetro para que pareça uma coisa e seja outra
A sala de estar do primeiro piso, por exemplo, parece imensa graças à parede de vidro que dá para o pátio, com o seu piso em madeira e móveis minimalistas, entre eles uma mesa de centro única, com diferentes níveis, e um grande sofá de linhas elegantes. Consegue sentir o vazio e a sensação de grandiosidade quando olha para a fotografia? Dissemos-lhe muitas vezes que a casa tinha muito vidro, mas vê-lo é diferente.
- Aqui não há televisão (para quê, com esta vista?), mas existe arte nas paredes como símbolo do seu alto estatuto. A sala conta com uma imagem de um bosque feito de malha de arame de aço inoxidável, obra do artista coreano Seung-mo Park (que é um artista real). A arte nas paredes é um símbolo de poder que não poderia faltar na casa de uma família jovem, rica e muito sofisticada.
A outra grande diferença: a luz
Deixando de lado o luxo e a grandiosidade do espaço, o que torna tão diferentes as casas das personagens que vivem em mundos tão distintos como o dos ricos e dos pobres? É fácil: a luz.
- Enquanto os Kim vivem num sótão com pouca ou nenhuma luz natural, os Park desfrutam de um lar banhado de luz solar filtrada por uma quantidade incalculável de janelas. "Quanto mais pobre a personagem é, menos acesso terá à luz solar, e isso também acontece na vida real: os pobres têm um acesso limitado a janelas", afirmou o diretor.
A escada como elemento visual chave
Casas com paredes altíssimas e enormes jardins em bairros ricos de Seoul existem certamente, mas uma escada como a que vemos no filme deverá ter sido criada à parte. "Entre todos esses pratos e decorações elegantes, está a escada, a que alguns chamaram a boca negra", disse Lee ao referir-se à preciosa, extravagante e única vitrina da família Park. E não é que no filme realmente se sente essa sensação de medo e ameaça no ecrã? Mas não se preocupe, queríamos falar da casa e já o fizemos. Agora, poderá desfrutar do filme com outros olhos!
Já viu este filme? Conhece outros em que as casas sejam capazes de transmitir tantas emoções? Diga-nos tudo nos comentários!